A goiaba e o bicho! EREBIO/ETJLN-FAETEC-N.iguaçu


ANAIS DO IV ENCONTRO REGIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA RJ/ES
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO SEROPÉDICA,
RJ.OUTUBRO 2007
III V E R E BI I O R J // / E S●U F R R J ●2 0 0 7

A GOIABEIRA: GERANDO CONTEÚDOS, MOTIVANDO E RECONHECENDO O
SABER PRÉVIO
Marco Antonio Rocha Silva 1
Elisabeth Guilhermina dos Santos 1
INTRODUÇÃO
O presente trabalho  é fruto de nossas observações como professores de biologia, em cursos Técnicos Na Escola Técnica João Luiz do Nascimento atualmente constituindo uma das unidades da FAETECRJ.
O tempo permitiu-nos acumular experiências por vários anos e tem mostrado que determinados temas de biologia poderiam fazer parte dos conteúdos programáticos dos cursos da Escola e não o fazem. Há ainda um discurso que permeia o ambiente desta escola, segundo o qual alunos dos cursos técnicos, em sua maioria, não vêem a razão ou motivo de estudar biologia. Nós acreditamos que a utilização de um tema gerador , com participação efetiva dos alunos, possa aumentar ou despertar o interesse por determinados assuntos (conteúdos), ora não contemplados, e ao mesmo tempo privilegiar um conhecimento prévio dos educandos. Não entendemos aqui que devamos pensar pelos alunos, e formar um conjunto de assuntos conexos, como acredita Azevedo (2005: 636). Acreditamos que, além de simultaneamente analisar alguns pontos de nosso programa de ensino em relação aos conteúdos ministrados e aqueles que segundo nossa opinião deveriam ser agraciados, o presente trabalho serviria como argumentação para novas ações, baseadas não só no conhecimento dos professores, mas respaldados pela participação efetiva dos educandos. Como exemplo de tópicos não estudados em nossa escola, podemos citar: O método científico, origem da vida, morfologia vegetal, os diversos tipos de reprodução, e fisiologia vegetal. E partindo da premissa que um tema gerador como o Projeto goiabeira poderia ser um aglutinador de vários conteúdos em biologia, e motivador se ocorrerem com a participação do aluno. Poderíamos então talvez atingir nossos objetivos como: contemplar temas, privilegiar o saber prévio e obter maior participação e interesse dos alunos. Optamos por uma pesquisa qualitativoquantitativa, já que passamos à produção de um questionário (préteste) com perguntas abertas e subjetivas, e que tinham como objetivo verificar a existência ou não de um saber prévio e que saber era este, caso ocorresse. Foram convocados alunos como voluntários para que respondessem ao questionário. Apresentaram-se cinco alunos, todos estudantes de segunda série dos Cursos Técnicos em Edificações e Eletrotécnica.
DESENVOLVIMENTO
1. Etapa inicial
Inicialmente submetemos o pré-teste aos alunos e, após terem respondido, os mesmos foram dispensados, sem que fizéssemos quaisquer observações sobre as respostas obtidas, e que serão comentadas adiante, isto com o objetivo de não interferir inicialmente em um saber prévio que pudesse existir e viesse alterar dados obtidos na continuidade do trabalho. Após 18 dias, solicitamos aos alunos que, em uma goiabeira existente no espaço escolar, isolassem algumas goiabas com sacos de papel, amarrados com barbantes e outros frutos foram mantidos sem os sacos, isto é, não foram isolados do meio ambiente (nossa proposta é que funcione como um grupo controle, muito embora os alunos não saibam de nossa intenção).
Algumas goiabas (Pisidium guajava L.) (Myrtaceae), que foram isoladas por sacos de papel, apresentavamse
intactas e foram identificadas com o número um, outras, que apresentavam lesões, como cicatrizes circulares, foram identificadas com o número zero. O material escolhido para ensacar os frutos foi saco de papel adquirido no mercado e amarrado com barbante de oito fios, o procedimento foi acompanhado pelos professores envolvidos com o trabalho.
2. Etapa inter mediár ia
Enquanto aguardávamos os resultados do crescimento e amadurecimento das goiabas, resolvemos verificar se goiabas produzidas em outros locais no município de Nova Iguaçu e que apresentam sinais (cicatrizes) semelhantes aos encontrados nas goiabas de nosso trabalho, apresentam ou não alterações em seu interior como nós, os professores, esperávamos que ocorresse e que pretendíamos verificar na ausência dos alunos, para tentar confirmar ou não nossas crenças científicas que quando as goiabas apresentam as marcas, é porque foram contaminadas por insetos e, portanto, devem conter em seu interior larvas dos mesmos
durante em desenvolvimento Amabis & Martho, (2006 p.11vol. 1.).
 Como esperávamos, as goiabas que mostravam as cicatrizes indicativas de contaminação por insetos estavam com larvas de insetos, confirmando nossa expectativa e larvas em etapas diferentes de desenvolvimento.
Nossa proposta aqui era repetir o procedimento na escola quando os frutos estivessem maduros, e sem que fizéssemos quaisquer colocações em presença dos alunos sobre o resultado encontrado, já que desejávamos a construção de conhecimentos pelos alunos.
Durante o mês de janeiro do corrente ano choveu praticamente todos os dias. Como conseqüência, os sacos de papel utilizados foram danificados pela água. Como medida, resolvemos substituir os sacos rasgados (danificados), junto com os alunos.
Resolvemos ainda, na ausência dos alunos, verificar o resultado até então obtido, istoé, tomamos alguns frutos que foram ensacados e observamos que existiam sacos que receberam o número zero, portanto não deveriam ter sido contaminados pelos insetos, o que não constituiu uma verdade, pois observamos larvas em desenvolvimento. Devemos deduzir que a falta de prática por parte dos alunos levou ao ensacamento de alguns frutos de forma errada? Este fato serviu para uma discussão durante a fase final, quanto à não eficácia obrigatória de uma pesquisa com a utilização do método científico . E então pudemos discutir onde teria ocorrido o erro.
Entendemos ainda que em uma segunda etapa deste trabalho os alunos deverão consultar agricultores ou fruticultores para devidos esclarecimentos, já que a proposta é que estes construam o saber. Dos frutos coletados, no dia do re-ensacamento e que apresentavam
larvas, guardamos algumas que se tornaram pupas. Aguardamos o desenvolvimento ou não das pupas, isto é, formas presentes no desenvolvimento de algumas espécies de insetos, que poderia levar a discussão do papel dos lisossomos, da apoptose celular e outros assuntos em etapas do desenvolvimento dos insetos holometábolos, isto é, insetos que apresentam durante seu desenvolvimento as fases de ovo , larva, pupa ou crisálida e imago (forma do inseto adulto) Storer, T. E Usinger L.R., (1977).
3. Etapa final
No dia 29 de Janeiro de 2007, convocamos os alunos, retiramos as goiabas gradativamente de seus sacos e simultaneamente cada um dos comentários dos alunos, que no momento nos parecia mais relevante, era então devidamente anotado para posterior análise. Os comentários realizados pelos alunos foram enumerados a seguir, sem qualquer interferência:
• O saco com o número um (01) ficou com fungos, apresentou uma polpa escura e casca
também escura, com buraco no saquinho. O furinho é feito pelo bichinho quando quer sair.
Os sacos com número zero que têm furo, não têm larvas! Ué!
• Tem sacos com número 1 com larva durinha (aluna se referia à mudança de fase), será que
a larva durinha virou o besouro que vimos?
(Nota: de alguns sacos saíam insetos quando os mesmos eram abertos).
• Os frutos que não possuem marcas não têm larvas. (aluno concluindo sem que perguntas
tivessem sido feitas).
• Na casca existem algumas marcas, mas essas marcas não passam pra polpa. (aluno se
referindo aos sacos com número 1, onde as goiabas não apresentavam larvas).
• Os frutos que não estavam ensacados apresentam marcas que ultrapassam a casca até a
polpa possuem larvas. (Aluno explicando porque alguns sacos com o número 1 os frutos
tinham larvas e em outros não).
Após as anotações supracitadas, resolvemos que nosso novo encontro será no início do
período letivo (fevereiro ou março), quando pretendemos retomar as discussões com os
alunos.
4. Considerações sobre o pr éteste
Em uma análise inicial das respostas obtidas com o préteste,
é interessante verificar
que todos os alunos já ouviram falar ou constataram a presença de larvas (bicho) na goiaba,
mas não apresentaram uma resposta categórica e por nós aceita, para explicar como ocorre a
contaminação. Entre as explicações verificamos as seguintes:
· Vem com o vento ;
· Os frutos produzem substâncias que facilitam a chegada dos animais;
· São trazidos nos bicos dos pássaros;
· São bactérias que entram pelas raízes e tornamse
bichos no fruto;
· São bactérias que vêm no vento ou que perfuram a casca e entram no fruto.
Quando perguntados como fariam para evitar a contaminação dos frutos

Propuseram:
· Usar um predador;
· Isolar os frutos com telas;
· Colocar a planta em ambiente livre de microorganismos ou;
· Utilizar um tipo de agrotóxico.
Na pergunta número 4 (quatro), em que os alunos deveriam responder ou propor uma solução para o grupo controle quando só teríamos uma planta (pé de goiaba), um aluno respondeu que deveria isolar a raiz para evitar a contaminação e os outros responderam: não sei. Caberia aqui uma pergunta: eles sabem o que é um grupo controle? (era nossa quinta pergunta) ao que todos responderam: não sei .
Perguntados sobre isolarmos os frutos para evitar a presença de bichos, todos
concordaram, mas não sabiam como e ainda assim todos concordaram que isolando os frutos estes não teriam bichos. Ainda em resposta ao pré-teste quando a pergunta foi: Será que ocorrendo a contaminação por bichos em um fruto, todos os outros também serão contaminados através do caule? Explique. Nossa pergunta apresenta uma indução ao erro, para verificar o conhecimento prévio de morfologia vegetal, ou ainda se ocorria alguma ausência de seriedade quando respondiam ou um possível saber que não tenha sido
diagnosticado em perguntas anteriores. Nos alunos respondentes encontramos quem discordasse, justificando que a contaminação seria diretamente sobre o fruto , porém um aluno concorda com a afirmativa, acrescentando que a “bactéria viraria bicho ”, e um outro aluno que afirma: o fruto cai no chão, se decompõe e sendo aproveitado pela árvore provoca a contaminação dos frutos e por fim um aluno afirmou não saber. Quando a pergunta era se ao podarmos o vegetal (planta) os frutos iriam crescer mais, três (03) concordaram um discordou e outro afirmou não saber . Nosso último item no pré-teste solicitava um comentário livre e os alunos responderam ser interessante participar do trabalho por este trazer alguma contribuição para descobrir o caminho certo, para ajudar aprender para as provas, pois é legal ou que esclareceria dúvidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É intrigante o fato que os alunos seguiram as recomendações sem qualquer questionamento, porém é estimulante cada colocação feita durante a observação dos frutos na etapa intermediária, sugerindo sem sombra de qualquer dúvida que os alunos literalmente 
chegam às conclusões, sem sequer cogitar a possibilidade de erros conceituais na presença do professor. As observações realizadas pelos alunos sobre as larvas e os insetos adultos encontrados são instigantes quanto à discussão sobre saber prévio, e estimulante quanto à questão dos assuntos que poderiam ser contemplados em uma discussão com alunos dos diversos cursos técnicos da escola em questão.
Entendemos que este trabalho deva continuar durante o ano letivo de 2007/8, para que possamos esclarecer alguns pontos não discutidos com os alunos, e que poderiam futuramente constituir conteúdos contemplados em nosso currículo escolar de biologia, isto além de passarmos por outras etapas, que incluam, por exemplo, a pesquisa de campo com fruticultores com o objetivo de respaldar nosso trabalho de forma prática com vivência e saberes outros que não os do âmbito escolar. Concordamos com Moreira & Ostermann (1993)
em A questão do método p.11415, onde afirma que a atividade científica não é uma espécie de receita infalível como parecem sugerir os livros didáticos e como professores podem estar ensinando. Logo não pretendemos seguir a visão fechada de um método científico rígido como apregoado sistematicamente nos livros didáticos, mas sim possibilitar a construção do conhecimento.
É nossa proposta ainda produzir um filme digital e transparências com o material produzido durante o trabalho até aqui realizado. Pretendemos, a partir do trabalho dos alunos, com depoimentos, elaborar formas de incentivo para a continuação do trabalho em outras turmas da escola. Entendemos que as ações propostas possibilitarão que concluamos ou não, quanto à questão do tema gerador, e demais discussões em relação aos conteúdos programáticos não privilegiados em nossa escola, e que foram colocadas anteriormente como
objetivos deste trabalho.
BIBLIOGRAFIA
AMABIS, J.M. & MARTHO, G.R., Ed.vol.1, Moderna São Paulo, 2006.
AZEVEDO, A. L., (2005). Uma proposta de orientação curricular de biologia no ensino
médio , Anais do I ENEBIO e III EREBIO RJ/ES, p.635636,
2005.
STORER, T. e USINGER L.R. Zoologia geral, tradução FROEHLICH, C.G. CORRÊA, D.D.
e SCHLENZ, E. Companhia editora nacional, terceira edição, São Paulo, 1977.
MOREIRA, M. A. e OSTERMANN, F. (1993) em A questão do método, Caderno
Catarinense de Ensino de Física 10(2), Florianópolis: UFSC, 1993.
NARDI, R. (org), Questões atuais no Ensino de Ciências, construtivismo e Ensino de ciências
de Fernando Bastos, p.925,
São Paulo: Escrituras, 1998.